…não desprezemos a palavra. Afinal de contas, ela é um instrumento poderoso; é o meio pelo qual transmitimos nossos sentimentos a outros, nosso método de influenciar pessoas. As palavras podem fazer um bem indizível e causar terríveis feridas.
S. Freud, 1926, vol. XX
A psicanálise, desde sua origem, ficou conhecida como “talking cure”, ou seja, cura pela palavra, sendo esta, portanto, a principal ferramenta de trabalho no tratamento psicanalítico. Através da associação livre, o paciente permite-se, durante as sessões, a expor os motivos do seu sofrimento. Ao mesmo tempo, sente-se acolhido pela escuta atenta do profissional, bem como pelas intervenções que se fazem necessárias, o que lhe possibilita, neste percurso, uma mudança de posição diante daquilo que vinha sendo a causa do seu sofrimento. Neste sentido, é possível dizer que o tratamento psicanalítico consiste em uma aventura. E não se trata de uma metáfora, já que, em seu sentido literal, aventurar-se implica sempre em correr riscos. De fato, um processo de análise pessoal demanda coragem e, sobretudo, desejo de mudança. Estes importantes vetores mobilizam o paciente em um empreendimento cujo desfecho, mesmo sendo incerto, é transformador.
Autorizar-se a estar diante de si mesmo e a falar, ainda que para um outro, sobre aquilo que não vai muito bem, sobre as frustrações, sobre a angústia que sufoca e a tristeza que dói é, certamente, um trabalho difícil. Convocado a falar, o paciente não só aprende a se escutar como, também, amplifica sua escuta em relação àquilo que diz e em relação ao que escuta dos outros. Cada sessão é, pois, singular. E, como em toda aventura, descobertas acontecem. São nestes momentos que o inesperado pode surgir, instaurando outras possibilidades e novas formas de viver para o paciente, menos sintomáticas e, por consequência, menos sofridas. É neste sentido que se estabelece a cura. Cura enquanto processo de elaboração das perdas vividas, de ressignificação da própria história e de transformação do sofrimento aprisionante em liberdade de ser.
